23 de nov. de 2009

André Peres contra o hacker das batatas fritas



Imagine a cena: uma grande empresa multinacional possui rede wireless (sem fio) local de acesso aos seus colaboradores. As ondas se propagam de maneira circular e ultrapassam os limites físicos do prédio das quais são emitidas. Do lado de fora, um hacker estaciona seu carro nas proximidades e com uma singela lata de batatas fritas rouba dados sigilosos. Ficção? Segundo o professor de Informática da ULBRA Canoas, André Peres, essa prática já foi descoberta e tem deixado muitos gestores de empresas com os cabelos em pé. Mas está com os dias contados.

Que história é essa de batata frita espiã? Na realidade não é a batata, mas sim a sua embalagem (lata) que serve como “antena” para receptar o sinal de uma rede corporativa. “O fundo de metal da lata, em conjunto com alguns componentes eletrônicos, pode se transformar em um receptador de sinais”, comenta o professor. O estudo de falhas ou brechas que permitem a violação de sistemas tem sido objeto de pesquisa desse docente da ULBRA, que inclusive montou o próprio negócio e hoje presta consultoria para diversas empresas.


Graduado em 1996, André partiu para o mestrado (2000) e doutorado (2004), ampliando suas pesquisas em segurança de redes. Mas engana-se quem pensa que segurança é apenas defender seus sistemas a invasões e furtos de dados. “Temos que calcular, não só a possibilidade de um crime, mas também de falhas e chegar próximo do risco zero”, comenta. O professor destaca que um profissional dessa área deve, também, estudar a probabilidade de um elevador cair, dois trens elétricos colidirem e até de um apagão no sistema elétrico, como o ocorrido recentemente. “Necessitamos descobrir e estar preparados para o plano B, sempre”, aconselha.

No caso do “hacker das batatas fritas”, André já desenvolveu um protótipo que vem obtendo resultados satisfatórios. As redes sem fio convencionais trabalham com a emissão de sinais a partir de uma antena específica. Dessa forma não há como precisar um ponto dentro do raio de ação. Com o projeto do professor, três antenas dispostas a distancias pré-estabelecidas, emitem o mesmo sinal e dentro do triângulo formado por elas determina-se a ação das ondas. Os primeiros testes isolaram a rede em uma sala de aula retangular. “Dentro das salas, os alunos conseguem entrar na rede, porém se estiverem do lado de fora, o sistema de localização não permite que se conectem”, explica. E quanto mais antenas forem instaladas, mais precisão na hora de delimitar o acesso ou localizar um ponto.


André ressalta que o seu interesse pela segurança de sistemas é fruto de uma análise sobre o comportamento das pessoas. O professor diz querer saber até onde vai a criatividade, o desejo de “burlar regras” e os próprios limites da mente humana. “Nada é mais humano do que uma falha”, resume. Nesse sentido, a docência entrou na sua vida de maneira natural, pois ali compartilha conhecimentos com dezenas de mentes, cada uma com suas peculiaridades. Os estudantes têm sido grandes parceiros em suas pesquisas. “Não me imagino fora da universidade. “O convívio com os alunos para mim é fundamental”, confessa.

E é dessa maneira que André Peres toca em frente os seus projetos. Além da “rede sem fio com alcance preciso”, ele trabalha agora na implantação do sistema de localização de estações sem fios para uso na universidade. Futuramente, segundo o professor, os alunos que utilizarem a rede wireless da ULBRA poderão ser localizados, independente de qual ponto do campus estejam. Para ele agora, o único problema que uma lata de batata frita vazia pode representar é colesterol alto. Ou indigestão.

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